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Sobre o uso do Little Jiffy na validação dos testes: comentários a Ávila e colaboradores

About the use of Little Jiffy in test validation: comments to Ávila and colleagues

SR. EDITOR,

A avaliação psicológica da depressão é um processo importante, pois assim se poderia obter uma aproximação do grau da diminuição do bem-estar e, consequentemente, da qualidade de vida. Nesse sentido, Ávila et al.11. Freire MA, Figueiredo VLM, Gomide A, Jansen K, Silva RA, Magalhães PVS, et al. Escala Hamilton: estudo das características psicométricas em uma amostra do sul do Brasil. J Bras Psiquiatr. 2014;63(4):281-9. fizeram uma versão validada da Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM-D). No entanto, eles utilizaram um procedimento com sérias limitações metodológicas, conhecido como Little Jiffy.

O “pacote” conhecido como Little Jiffy22. Kaiser H. The application of electronic computers to factor analysis. Educ Psychol Meas. 1960;20:141-51. é composto por três procedimentos: a Análise dos Componentes Principais (PCA), a regra do Kaiser (RK; autovalores > 1) e a rotação varimax (RV). Porém, essa combinação é a menos recomendada quando o objetivo é examinar de forma exploratória a estrutura interna de um teste de medição. Tendo em vista as limitações de cada procedimento no estudo psicométrico de um teste de avaliação33. Lloret-Segura S, Ferreres-Traver A, Hernández-Baeza A, Tomás-Marco I. El análisis factorial exploratorio de los ítems: una guía práctica, revisada y actualizada. Anal Psicol. 2014;30(3):1151-69., os autores deveriam apresentar forte argumentação para justificar o seu uso. A seguir, mostra-se cada um deles.

Em princípio, a PCA é um método de redução de variáveis observadas (itens), não de análise fatorial33. Lloret-Segura S, Ferreres-Traver A, Hernández-Baeza A, Tomás-Marco I. El análisis factorial exploratorio de los ítems: una guía práctica, revisada y actualizada. Anal Psicol. 2014;30(3):1151-69., mas leva em conta a variância total (comum e única, incluindo a variância do erro), o que conduz a superestimar as cargas fatoriais44. Ferrando PJ, Anguiano-Carrasco C. El análisis factorial como técnica de investigación en psicología. Papeles del Psicólogo. 2010;31(1):18-33. e a distorcer a interpretação adequada do construto avaliado. Existem outras opções mais apropriadas que poderiam ser usadas dependendo da situação, como o método dos mínimos quadrados ordinários ou o método de máxima verossimilhança. A RK tende a superestimar o número de fatores/componentes, que devem ser conservados44. Ferrando PJ, Anguiano-Carrasco C. El análisis factorial como técnica de investigación en psicología. Papeles del Psicólogo. 2010;31(1):18-33., por isso não é considerado um método analítico confiável33. Lloret-Segura S, Ferreres-Traver A, Hernández-Baeza A, Tomás-Marco I. El análisis factorial exploratorio de los ítems: una guía práctica, revisada y actualizada. Anal Psicol. 2014;30(3):1151-69.. No entanto, existem outros métodos mais precisos e com mais respaldo empírico em comparação com a RK, como a Análise Paralela e o Minimum Average Partial, dos quais os resultados são mais confiáveis.Finalmente, o uso de RV foi baseado no pressuposto de que produz soluções fatoriais simples e de fácil interpretação, mas estudos recentes indicam que as rotações oblíquas oferecem estruturas mais simples55. Matsunaga M. How to factor-analyze your data right: do’s, don’ts, and how-to’s. Int J Psychol Res. 2010;3(1):97-110..

Por outro lado, a aplicação de RV pressupõe que os itens não estão correlacionados, mas é difícil defender a independência fatorial e não estimar a correlação entre os fatores; é mais razoável assumir uma relação entre os fatores analisados, a qual pode ser conferida por meio de uma rotação oblíqua.

Segundo os argumentos apresentados sobre as limitações da metodologia aplicada, a versão validada do HAM-D pode ser questionável e provavelmente afeta os processos subsequentes. Portanto, os autores devem reavaliar os seus dados para se alinharem com a atual posição sobre o uso apropriado da análise fatorial exploratória, e assim contrastar seus resultados.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Freire MA, Figueiredo VLM, Gomide A, Jansen K, Silva RA, Magalhães PVS, et al. Escala Hamilton: estudo das características psicométricas em uma amostra do sul do Brasil. J Bras Psiquiatr. 2014;63(4):281-9.
  • 2
    Kaiser H. The application of electronic computers to factor analysis. Educ Psychol Meas. 1960;20:141-51.
  • 3
    Lloret-Segura S, Ferreres-Traver A, Hernández-Baeza A, Tomás-Marco I. El análisis factorial exploratorio de los ítems: una guía práctica, revisada y actualizada. Anal Psicol. 2014;30(3):1151-69.
  • 4
    Ferrando PJ, Anguiano-Carrasco C. El análisis factorial como técnica de investigación en psicología. Papeles del Psicólogo. 2010;31(1):18-33.
  • 5
    Matsunaga M. How to factor-analyze your data right: do’s, don’ts, and how-to’s. Int J Psychol Res. 2010;3(1):97-110.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2015
  • Aceito
    28 Mar 2016
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