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Contribuições da consciência fonológica e nomeação seriada rápida para a aprendizagem inicial da escrita

RESUMO

Objetivo:

investigar a contribuição da consciência fonológica e nomeação seriada rápida para a aprendizagem inicial da escrita.

Métodos:

participaram do estudo 100 crianças, na faixa etária de três a seis anos e onze meses, matriculadas na educação infantil de uma creche e uma escola municipal da cidade do Recife. Utilizou-se como instrumentos de avaliação o Teste de Consciência Fonológica, a tarefa de Nomeação Seriada Rápida e um roteiro de avaliação da escrita. Os dados foram transcritos e analisados conforme a estatística descritiva e inferencial.

Resultados:

observou-se que o aumento da faixa etária está diretamente relacionado ao desenvolvimento dos níveis de consciência fonológica, assim como com a diminuição dos erros e do tempo para execução das tarefas de NSR. Verificou-se que as crianças com mais de quatro anos, tiveram um desempenho em consciência fonológica aquém do esperado para sua idade. Dentre as habilidades de consciência fonológica, a consciência silábica obteve melhores índices de pontuações, podendo-se observar grande dificuldade dos participantes nas tarefas de consciência fonêmica. Com relação a escrita, a maioria das crianças estavam na fase pré-silábica. Foi possível verificar correlações significantes entre as habilidades de consciência fonológica com a nomeação seriada rápida e escrita.

Conclusão:

a consciência fonológica e nomeação seriada rápida contribuem para a aprendizagem inicial da escrita, sendo importante o estímulo destas habilidades antes do ciclo de alfabetização, o que pode favorecer este processo e sinalizar, precocemente, eventuais problemas de aprendizagem. O baixo desempenho nas tarefas pode ser sugestivo da influência de fatores socioeducacionais, devendo-se considerar o contexto de vida da criança e as experiências educativas vivenciadas na família e escola.

Descritores:
Aprendizagem; Educação Infantil; Fatores de Risco; Leitura; Transtornos de Aprendizagem

ABSTRACT

Purpose:

to investigate the contribution of phonological awareness and rapid serial naming for the initial learning of writing.

Methods:

the study involved 100 children of both sexe, aged from two to six years and eleven months , enrolled in early childhood education from a nursery and a school hall in the in the city of Recife. Was used as assessment tools Test of Phonological Awareness, a task of Rapid Serial Naming and script writing evaluation. Data were transcribed and analyzed according to descriptive and inferential statistic.

Results:

it was observed that increasing age is directly related to the development of phonological awareness levels and reduction of errors and the time for performance of the tasks of rapid serial naming. Among the phonological awareness, syllable awareness scores obtained better rates, can be observed in great difficulty participating in the tasks of phonemic awareness. It was possible to identify significant correlations between phonological awareness, rapid serial naming and writing.

Conclusion:

the rapid serial naming contribute to early learning of reading and writing, with the encouragement of these important skills before literacy cycle, favoring this process and signaling potential learning problems early. The poor performance on tasks can be suggestive of the influence of socioeducational factors, one should consider the context of the child's life and the lived educational experiences in the family and school.

Keywords:
Learning; Child Rearing; Risk Factors; Reading; Learning Disorders

Introdução

A consciência fonológica é a habilidade metalinguística de reconhecimento das características formais fonológicas ou da estrutura sonora da linguagem. Refere-se ao conhecimento de manipular intencionalmente a estrutura sonora das palavras desde a substituição de um determinado som até a sua segmentação em unidades menores11. Kaminski TI, Moura HB, Cielo CA. Vocabulário expressivo e consciência fonológica: correlações destas variáveis em crianças com desvio fonológico. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(2):174-81.),(22. Rosal AGC, Cordeiro AA, Queiroga BAM. Consciência fonológica e o desenvolvimento fonológico em crianças de escolas públicas e particulares. Rev CEFAC. 2013;15(4):837-46.. Estudos evidenciam a importância da consciência fonológica para aprendizagem da língua escrita, já que para a criança aprender a ler e escrever no sistema de escrita alfabético é necessário a percepção da relação grafema-fonema. Para isso, são fundamentais as habilidades em identificação, análise, síntese e manipulação dos componentes fonológicos em níveis silábico e fonêmico, que compõem a consciência fonológica 22. Rosal AGC, Cordeiro AA, Queiroga BAM. Consciência fonológica e o desenvolvimento fonológico em crianças de escolas públicas e particulares. Rev CEFAC. 2013;15(4):837-46.),(33. Soares AJC, Cárnio MS. Consciência fonêmica em escolares antes e após oficinas de linguagem. J Soc Bras Fonoaudiol. 2012;24(1):69-75..

Apesar da leitura e escrita serem processos inter-relacionados, outras variáveis têm sido descritas como sendo precursoras da leitura. Uma delas seria a habilidade de "processamento fonológico". Na literatura disponível, esse processamento tem sido avaliado por meio de atividades de nomeação seriada rápida, que é definida como uma habilidade de reconhecer símbolos gráficos de modo rápido e acurado (decodificação). Acredita-se que quanto maior for essa capacidade de processamento, maiores serão os recursos cognitivos disponíveis para a tarefa de compreensão da leitura, apesar de que a compreensão requer capacidades que vão além do processamento fonológico, tais como: conhecimento prévio; capacidade de realizar inferências; dentre outros 44. Germano GD, Pinheiro FH, Padula NAMR, Lorencetti MD, Capellini SA. Desempenho em consciência fonológica, nomeação rápida, leitura e escrita em escolares com dislexia secundária a retardo mental e com bom desempenho acadêmico. Rev. CEFAC [periódico na Internet] 2012 [acesso em 15 de setembro de 2012]; 14(5):799-807. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-18462012000500005&lng=en&nrm=iso
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),(55. Justi CNG, Roazzi A. A contribuição de variáveis cognitivas para a leitura e a escrita no português brasileiro. Psicol. Reflex. Crit. [periódico na internet] 2012 [acesso em 24 de novembro de 2013]; 25(3):605-14. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722012000300021 .
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Estudos apontam que prejuízos na consciência fonológica e nomeação seriada rápida dificultam as conversões letra-som e representam os principais fatores de risco para os transtornos de aprendizagem44. Germano GD, Pinheiro FH, Padula NAMR, Lorencetti MD, Capellini SA. Desempenho em consciência fonológica, nomeação rápida, leitura e escrita em escolares com dislexia secundária a retardo mental e com bom desempenho acadêmico. Rev. CEFAC [periódico na Internet] 2012 [acesso em 15 de setembro de 2012]; 14(5):799-807. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-18462012000500005&lng=en&nrm=iso
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. Estratégias para desenvolver estas habilidades, no início da alfabetização, permitem maior sucesso no aprendizado da língua escrita e prevenção dos transtornos de aprendizagem.

Os transtornos de aprendizagem podem ser caracterizados pela presença de disfunção neurológica ou hereditária, que é responsável pela alteração do processamento cognitivo e da linguagem. Pode se manifestar por meio de dificuldades no processo de decodificação ou identificação de palavras, como leitura, compreensão de leitura, raciocínio matemático, atividades de soletração, escrita de palavras e textos (66. Silva C, Capellini SA. Eficácia do programa de remediação fonológica e leitura no distúrbio de aprendizagem. Pró-Fono R Atual Cient. 2010;22(2):131-8.),(77. Silva C, Capellini SA. Desempenho de escolares com e sem transtorno de aprendizagem em leitura, escrita, consciência fonológica, velocidade de processamento e memória de trabalho fonológica. Rev. Psicopedag. [periódico na Internet] 2013 [acesso em 03 de setembro de 2013]; 30(91):3-11. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862013000100002 .
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Observa-se que nos transtornos de aprendizagem, em sua maioria, não há prescrição de medicamentos, e, sim, adaptações pedagógicas aliadas ao atendimento especializado88. Alves L, Mousinho R, Capellini SA. Dislexia: novos temas, novas perspectivas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.. Apesar do reconhecimento da existência desse tipo de problema entre os educandos e da necessidade de a escola preparar-se para o atendimento apropriado dos mesmos, o Ministério da Educação ainda não definiu, formalmente, políticas que possam garantir a assistência adequada e necessária a tal população.

Com a finalidade de iniciar cada vez mais precocemente a identificação dos transtornos de aprendizagem, estudos nacionais88. Alves L, Mousinho R, Capellini SA. Dislexia: novos temas, novas perspectivas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.),(99. Tenório SMPCP, Ávila CRB. Processamento fonológico e desempenho escolar nas séries iniciais do ensino fundamental. Rev CEFAC. 2012;14(1):30-8.) e internacionaisq1010. Lonigan CJ, Purpura DJ, Wilson SB, Walker PM, Clancy-Menchetti J. Evaluating the components of an emergent literacy intervention for preschool children at risk for reading difficulties. J Exp Child Psychol 2013;(114):111-30.)-(1212. Fuchs LS, Vaughn S. Responsiveness-to-Intervention: A Decade Later. J. Learn. Disabil. 2012;45(3):195-203. apontam para a necessidade de se realizar a identificação e intervenção precoce nos escolares em fase inicial de alfabetização para que os fatores preditivos para o bom desempenho em leitura, como a consciência fonológica e a nomeação seriada rápida, a fim de que sejam trabalhadas nos escolares que apresentam desempenho abaixo do esperado em relação ao seu grupo-classe.

Para tanto, têm sido desenvolvidos programas para a identificação precoce dos escolares de risco para os transtornos de aprendizagem, como o modelo de Resposta a Intervenção - RTI (do inglês response to intervention ). O RTI foi adotado como política pública nos Estados Unidos e vem garantindo que os escolares em risco recebam intervenções preventivas, organizadas em múltiplos níveis, que aumentam a instrução progressivamente de acordo com a resposta das crianças1313. Fletcher JM, Vaughn S. Response to Intervention: Preventing and Remediating Academic Difficulties. Child. Dev. Perspect. 2009;3(1):30-7.),(1414. Grosche M, Volpe RJ. Response-to-intervention (RTI) as a model to facilitate inclusion for students with learning and behaviour problems. Eur. J. Spec. Needs Educ. 2013;28(3):254-69..

No Brasil, no entanto, não há uma política voltada para a identificação precoce dos transtornos de aprendizagem, os recursos educacionais são escassos, havendo um conjunto de fatores desfavoráveis para a implementação destes programas nas escolas. Por outro lado, pesquisas evidenciam a importância da temática para a realidade educacional brasileira, uma vez que quanto mais cedo for reconhecida a criança em situação de risco, menor será o processo ensino-aprendizagem que ambos, a escola e a criança, terão de compensar. Quando os transtornos de aprendizagem são identificados e tratados precocemente, a criança consegue suprir suas dificuldades e prosseguir no processo de alfabetização1515. Andrade OVCA, Prado PST, Capellini SA. Desenvolvimento de ferramentas pedagógicas para identificação de escolares de risco para a dislexia. Rev. Psicopedag. [periódico na internet] 2011 [acesso em 12 de setembro de 2012]; 28(85):14-28. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0103-84862011000100003&script=sci_arttext.
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),(1616. Andrade OVCA, Andrade PE, Capellini SA. Collective screening tools for early identification of dyslexia. Front. Psychol. [periódico na internet] 2015 [acesso em 12 de outubro de 2015]; 5(23):1-13. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4304252/
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Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo geral investigar as contribuições da consciência fonológica e nomeação seriada rápida para a aprendizagem inicial da escrita em crianças da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental I. Os objetivos específicos foram: descrever o desenvolvimento da consciência fonológica e a nomeação seriada rápida; analisar a fase de desenvolvimento da escrita e correlacionar com as habilidades de consciência fonológica e nomeação seriada rápida; analisar a influência de fatores socioeducacionais no aprendizado da escrita.

Métodos

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Pernambuco, sob o parecer 261.858/2013 CAAE nº 12927813.1.0000.5208 do Conselho Nacional de Saúde.

O caminho metodológico indicado para a presente pesquisa priorizou uma análise quantitativa, sendo o estudo caracterizado como descritivo, correlacional e transversal.

A pesquisa foi realiza em uma creche e uma escola municipal, na cidade do Recife, no estado de Pernambuco. A faixa etária das crianças na creche era de zero a três anos e da escola de quatro a seis anos. Participaram do estudo 80 crianças, de ambos os sexos, com faixa etária entre três anos a seis anos e onze meses, subdivididas em quatro grupos etários: G1 (3:0-3:11); G2 (4:0-4:11); G3 (5:0-5:11); G4 (6:0-6:11).

Os critérios de exclusão da amostra foram: crianças que, segundo a análise das professoras, possuíam problemas de comunicação, de aprendizagem ou necessidades educativas especiais; crianças que no momento da avaliação foram identificadas com um quadro de transtorno fonológico ou outros problemas de linguagem; e crianças com antecedentes de problemas auditivos, neurológicos ou qualquer outro aspecto evidente que pudesse interferir no desenvolvimento da linguagem.

Os dados foram coletados no período de maio a julho de 2013. Inicialmente, foram obtidos dados individuais na ficha de identificação do aluno na escola. Posteriormente, foram obtidas informações socioeducacionais por meio de um questionário aplicado aos pais ou cuidador, cujos objetivos eram caracterizar a amostra e conhecer o contexto em que as crianças estavam inseridas.

Os pais ou responsável legal receberam uma carta de informação, contendo os objetivos do estudo e garantindo o sigilo. Os que concordaram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE.

Inicialmente, foi realizada a avaliação da consciência fonológica, por meio do Teste sequencial de Consciência Fonológica (CONFIAS)1717. Moojen S, Lamprecht R, Santos RM, Freitas GM, Brodacz R, Siqueira M et al. CONFIAS: Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.. Esta prova é dividida em duas partes, sendo a primeira corresponde ao nível silábico composta de nove itens: síntese; segmentação; identificação de sílaba inicial; identificação de rima; produção de palavra com a sílaba dada; identificação de sílaba medial; produção de rima; exclusão; e transposição. A segunda parte envolve o nível fonêmico disposta em sete itens: produção de palavra que inicia com o som dado; identificação de fonema inicial; identificação de fonema final; exclusão; síntese; segmentação; e transposição.

Cada tarefa é acompanhada por um quadro explicativo, no qual aparecem as ordens e exemplos de como aplicá-la. Para ter certeza que as crianças entenderam a tarefa, eram propostos sempre dois exemplos iniciais e estes nunca contavam para a pontuação. As respostas corretas valiam 1 ponto e as incorretas valiam 0. No nível silábico a pontuação máxima era equivalente a 40 acertos e no nível fonêmico 30, totalizando 70 pontos, o que corresponde a 100% de acertos. É importante salientar que o teste é indicado pelos autores para ser aplicado com crianças a partir dos quatro anos, mas, no presente estudo, com a intenção de verificar uma maior ou menor "sensibilidade" fonológica em crianças mais novas, aplicou com crianças a partir dos três anos de idade e, neste caso, quando a criança errava todos os subitens de um nível, o teste era interrompido.

Na sequência, foi realizada a avaliação da habilidade de Nomeação Seriada Rápida1818. Justi C. A contribuição do processamento fonológico, da consciência morfológica e dos processos subjacentes à nomeação seriada rápida para leitura e escrita no português brasileiro [Tese]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco; 2009., sendo dividida em quatro etapas: letras; números; objetos; e cores. As etapas foram apresentadas em duas pranchas, compostas por cinco estímulos diferentes, os quais se repetem aleatoriamente, distribuídos em 5 linhas e 10 colunas, na prancha A e B, devendo ser aplicados em sequência, sem interrupções. A tarefa de letras consistia na apresentação das letras "a", "m", "o", "r", e "s". A tarefa de números era composta por cinco números, de um único dígito, todos dissílabos "4", "5", "7", "8" e "9". A etapa de objetos utilizava figuras que estavam entre os cinco itens mais típicos de suas respectivas categorias, dentre elas, bola, carro, lua, porta, e gato. Por fim, a etapa das cores foi composta pelas cores: azul; amarelo; verde; vermelho; e preto.

Os participantes foram orientados a nomear o mais rapidamente possível os estímulos visuais, seguindo o caminho de cima para baixo e da esquerda para a direita. Cada tarefa possuía uma ficha de treinamento, contendo cinco diferentes estímulos presentes nas pranchas experimentais, sendo certificado que as crianças conhecem as cores, objetos, números e letras. Foram considerados erros quando a criança realizou omissões e nomeações incorretas. No entanto, as respostas erradas corrigidas espontaneamente não foram consideradas erros. Para cada tarefa dois escores foram computados: o tempo médio e a média do número de erros, sendo registrados no protocolo de aplicação e análise das tarefas de nomeação seriada rápida.

Na avaliação da escrita, cada tarefa foi aplicada seguindo a ordem do roteiro. As tarefas apresentam caráter sequencial em que inicialmente, foi solicitado a cada participante a escrita de sua idade e de seu próprio nome. Foi realizada oralmente a avaliação do realismo nominal, por meio de duas perguntas: "Diga-me duas palavras grandes e duas palavras pequenas", "Qual a palavra maior: boi ou formiga?", objetivando verificar se a criança adota propriedades quantificáveis dos referentes como critério para decidir sobre diferenças de grafia entre palavras.

Em seguida, aplicou-se o ditado de palavras, utilizando palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas e polissílabas, distribuídas igualmente, sendo duas de cada. Nesta etapa, foram deixadas duas palavras em aberto, apresentando como principais características a regularidade e a mesma sílaba inicial do nome da criança pesquisada. Os participantes que conseguiram escrever todas as palavras realizaram o ditado de duas frases, a exemplo "O gato bebeu leite" e "Eu gosto de brincar". Todas as etapas foram filmadas e os resultados foram analisados segundo as fases evolutivas da escrita da criança, descritas em quatro níveis propostos por autores1919. Ferreiro E, Teberosky A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas; 1986..

Após a realização da coleta de dados, os resultados foram codificados em variáveis numéricas para possibilitar a alimentação de um banco de dados, utilizando o software SPSS 13.0, o qual consentiu a realização de análise estatística descritiva e analítica. Para comparação das médias entre os grupos realizou-se a estatística analítica utilizando o teste de correlação de Spearman para analisar a relação entre a consciência fonológica, a nomeação seriada rápida e escrita.

Resultados

Com a finalidade de caracterizar a população do estudo, serão apresentados, inicialmente, os resultados socioeducacionais referentes ao questionário. Ao se analisar as respostas dos pais/cuidadores, foi observado que 55% possuíam renda de até 1 salário mínimo, 40% dos pais apresentaram o Ensino Médio como nível de escolaridade e 42% das mães o Ensino Fundamental II. Com relação à naturalidade, 75% dos pais e 73% das mães eram da Região Metropolitana de Recife. Das crianças pesquisadas, 53% assistiam televisão até 3 horas por dia, 29% não possuíam livros de histórias infantis e 22% possuíam até 3 livros. Com relação à frequência de leitura, 37% dos pais nunca liam para as crianças, 43% liam raramente, e 18,75% liam frequentemente.

Figura 1:
Caracterização dos resultados referentes ao percentual do questionário socioeducacional em crianças da Educação Infantil e do 1º ano do Ensino Fundamental I (n=80).

Na Tabela 1, os dados estão distribuídos de acordo com a média e desvio padrão para o desempenho nas habilidades de consciência fonológica (Teste CONFIAS) e sua relação por faixa etária (grupo). Observa-se que o aumento da faixa etária está diretamente relacionado ao desenvolvimento dos níveis de consciência fonológica, especialmente na parte de consciência silábica, uma vez que foi verificada grande dificuldade dos participantes nas tarefas de consciência fonêmica.

Tabela 1:
Distribuição dos resultados relativos ao teste consciência fonológica (médias e desvio padrão) por grupo etário, em crianças da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental I, Recife, 2015. (N=80)

Observa-se, na Tabela 2, a média e desvio padrão para as tarefas de nomeação seriada rápida e sua relação por cada faixa etária (grupo). Nota-se melhor desempenho para as tarefas de objetos, seguido de cores. Pode-se observar que com o aumento da faixa etária, houve a diminuição dos erros e do tempo de realização das tarefas de NSR.

Tabela 2:
Distribuição dos resultados relativos às tarefas de nomeação seriada rápida (médias e desvio padrão) por grupo etário, em crianças Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental I, Recife, 2015. (N=80)

A Tabela 3 apresenta a distribuição das fases da escrita e realismo nominal e sua relação por faixa etária (grupo). Verifica-se que das 80 crianças pesquisadas, 93,75% encontram-se na fase da escrita pré-silábica, 3,75% na silábica e 2,5% na silábica-alfabética, nenhuma criança apresentou escrita alfabética. No que concerne à superação do realismo nominal, foi verificado que 77,5% dos participantes demonstraram não tê-lo superado, 21,25% demonstraram a superação e apenas um indivíduo apresentou resposta inconsistente, pois respondeu corretamente às perguntas orais da prova, mas, na parte escrita demonstrou não pensar na correspondência grafofônica da palavra, mas, sim, no seu significado.

Tabela 3:
Distribuição dos resultados relativos à frequência absoluta das fases da escrita e realismo nominal por grupo etário, em crianças da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental I, Recife, 2015. (N=80)

A Tabela 4 apresenta a análise de correlação de Spearman entre a consciência fonológica, nomeação seriada rápida e escrita. Foram encontradas correlações significantes entre as habilidades de consciência fonológica e de nomeação seriada rápida, tanto no número de erros, quanto no tempo de realização, e entre a consciência fonológica e o nível de escrita das crianças.

Tabela 4:
Correlação de Spearman entre a consciência fonológica, nomeação seriada rápida e escrita, em crianças da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental I, Recife, 2015. (N=80)

Discussão

De acordo com a Tabela 1, com o aumento da idade da criança, há melhora nas habilidades de consciência fonológica. Esses resultados mostram, como esperado, que a progressão da idade e, principalmente, dos anos escolares, influencia o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das habilidades de consciência fonológica que dependem, em parte, do contato com a escrita e do aprendizado formal. Esses dados corroboram com os achados de um estudo realizado na Região Metropolitana do Recife22. Rosal AGC, Cordeiro AA, Queiroga BAM. Consciência fonológica e o desenvolvimento fonológico em crianças de escolas públicas e particulares. Rev CEFAC. 2013;15(4):837-46.. Pode-se observar também esta comparação em outras regiões do país em contextos sociolinguísticos diversos11. Kaminski TI, Moura HB, Cielo CA. Vocabulário expressivo e consciência fonológica: correlações destas variáveis em crianças com desvio fonológico. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(2):174-81..

De modo semelhante, pesquisa realizada na região Sul11. Kaminski TI, Moura HB, Cielo CA. Vocabulário expressivo e consciência fonológica: correlações destas variáveis em crianças com desvio fonológico. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(2):174-81. objetivou comparar o desempenho em vocabulário expressivo e consciência fonológica entre crianças com desvio fonológico e com aquisição típica da linguagem e analisar a influência da idade neste desempenho. Os dados apontam que as crianças com menor faixa etária obtiveram menos acertos nas tarefas de consciência fonológica. Esse resultado pode ser justificado pelo conhecimento prévio adquirido pela criança com mais idade e pela influência da linguagem escrita. Uma vez que as crianças com mais idade passaram a ter contato maior com os conceitos de grafema e fonema, consequentemente passaram a ter maior nível de consciência fonológica.

No presente estudo foi possível observar que os participantes tiveram muita dificuldade em realizar as tarefas de consciência fonológica. De certo modo, essa dificuldade era esperada para as crianças menores de quatro anos, pois o teste empregado (CONFIAS) é recomendado para crianças a partir desta faixa etária em função da dificuldade em se avaliar a consciência fonológica em crianças de três anos. Ainda assim, o teste foi selecionado e aplicado com intuito de verificar se o mesmo poderia indicar alguma "sensibilidade" fonológica por parte das crianças mais novas, sendo possível observar algum nível de sensibilidade para a habilidade de consciência silábica.

Mesmo havendo sensibilidade para a habilidade de consciência silábica, a média dos resultados encontrados, em todos os grupos etários, está muito abaixo do que à autora do teste1717. Moojen S, Lamprecht R, Santos RM, Freitas GM, Brodacz R, Siqueira M et al. CONFIAS: Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. preconiza.

De acordo com o teste, o mínimo de acertos, na consciência silábica, das crianças de quatro anos que estão na fase de desenvolvimento da escrita pré-silábica deve ser 18 pontos e o máximo 29 pontos. Neste estudo, crianças com 4 anos alcançaram uma média de 2,70 (dois vírgula sete) pontos e com 6:11 anos obtiveram média de 9,55 (nove vírgula cinquenta e cinco) pontos, o que pode ser considerado muito baixo de acordo com os parâmetros do teste. O desempenho aquém do preconizado nos parâmetros do teste também foi observado nas crianças na faixa de 5 e 6 anos, o que chama a atenção para a possibilidade da influência de fatores socioeducacionais para o desenvolvimento desta habilidade.

O resultado do questionário socioeducacional pode justificar tal desempenho, vide. Figura 1, o qual mostra que das 80 crianças pesquisadas, 42 assistem televisão até três horas por dia. Estes resultados chamam a atenção, considerando que 10 possuem idades entre três anos e frequentam a creche em tempo integral, e no tempo que passam em casa, aparentemente recebem pouco estímulo para atividades de leitura e escrita. Outro dado relevante é o baixo investimento na leitura, observa-se que 36,25% dos pais nunca liam para as crianças e 42,5% liam raramente, ou seja, 78,75% dos pais (três terços) não apresentam o hábito de leitura.

Nota-se, também, pouco investimento das famílias na aquisição de livros infantis, visto que 27,5% não possuem livros e 20% possuem até 3 livros. Ou seja, nota-se que 47,5% das crianças tem pouco ou nenhum acesso a livros em casa. Como os pais frequentaram a escola, deveria haver maior contato das crianças com o material escrito, a fim de reforçar atividades de letramento. Entre outras palavras, é necessário fazer uso da leitura e escrita no cotidiano e apropriar-se de sua função social2020. Oliveira IFL, Castela GS. Alfabetização e/ou letramento: implicações para o ensino. Revista Travessias [periódico na internet] 2013 [acesso em 23 de setembro]; 7(1):281-97. Disponível em http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/download/8141/6294
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. Com essas práticas, consequentemente, a criança vai apresentar melhor desempenho nas habilidades relacionadas à leitura e escrita, como a consciência fonológica.

O baixo desempenho em consciência fonológica também pôde ser constatado em outra pesquisa realizada na Região Metropolitana do Recife22. Rosal AGC, Cordeiro AA, Queiroga BAM. Consciência fonológica e o desenvolvimento fonológico em crianças de escolas públicas e particulares. Rev CEFAC. 2013;15(4):837-46., a qual buscou investigar a relação entre consciência fonológica e o desenvolvimento do sistema fonológico em crianças de escolas públicas e particulares. As autoras também verificaram maior sensibilidade para a habilidade de consciência silábica, e as crianças pesquisadas com idade de quatro anos obtiveram média de 2,54 (dois vírgula cinquenta e quatro) pontos e aquelas com seis anos e onze meses obtiveram média de 21 pontos. Estas pontuações também estiveram abaixo do que o teste propõe.

De modo diferente, outro estudo realizado na região Sul com crianças de escolas particulares2121. Bublitz GA. A consciência fonológica e a memória fonológica. Letrônica [periódico na internet] 2009 [acesso em 18 de agosto de 2013]; 2(1):168-81. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/download/4852/4059 .
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
, com objetivo de verificar a relação entre o letramento precoce, a consciência fonológica e a memória de trabalho, observou que as crianças da Educação Infantil com faixa etária de cinco e seis anos apresentaram pontuações elevadas no teste CONFIAS, se comparadas com as crianças do presente estudo. Na consciência silábica obtiveram pontuações que variaram de 32 a 39 pontos e na consciência fonêmica de 15 a 22 pontos. Vale ressaltar que as crianças pesquisadas encontravam-se nas fases da escrita silábico-alfabética e alfabética, diferentemente deste estudo em que 95% das crianças encontraram-se na fase pré-silábica. Estes dados são indicativos de que há uma relação entre a consciência fonológica e a escrita, indicando que crianças em fases da escrita mais avançadas possuem maior facilidade nas habilidades de consciência fonológica.

No que se refere às habilidades de consciência fonêmica, no presente estudo, as crianças apresentaram dificuldades na realização do teste. Esses dados sinalizam que dificuldades nestas habilidades podem ser decorrentes de questões educacionais, ou seja, o modo como a apropriação do sistema de escrita alfabética é abordado na escola e da relativização do emprego do teste em populações com diferentes contextos socioeducacionais.

De modo semelhante ao que foi verificado no teste de consciência fonológica, os participantes apresentaram dificuldades em realizar as tarefas de nomeação seriada rápida, como observado na Tabela 2. Pode-se constatar que eles apresentaram melhor desempenho para a nomeação de objetos, seguido da nomeação de cores. Estes dados discordam do que foi observado em outra pesquisa2222. Bicalho LGR, Alves LM. A nomeação seriada rápida em escolares com e sem queixas de problemas de aprendizagem em escola pública e particular. Rev CEFAC [periódico na internet] 2010 [acesso em 05 de outubro de 2013]; 12(4):608-16. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-18462010000400010&script=sci_arttext.
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, no qual as tarefas de nomeação de letras e números foram realizadas pelos participantes com menor tempo e número de erros. Além disso, era esperado que os sujeitos apresentassem maior tempo nas tarefas de nomeação de objetos e cores, em virtude da extensão dos vocábulos, nos estímulos, de cada tarefa. Entretanto, os resultados encontrados no presente estudo podem ser justificados devido ao conhecimento ainda restrito em relação às letras e dígitos que as crianças da Educação Infantil possuem, sendo mais fácil realizar as tarefas de cores e objetos, em que é possível recorrer ao significado das figuras.

Nota-se que as pesquisas investigam esta habilidade em crianças a partir do período de alfabetização, contudo os achados do presente estudo demonstram que crianças a partir dos 3 anos já possuem sensibilidade à nomeação seriada rápida, conseguindo realizar todas as etapas da tarefa (cores, objetos, letras e números), sendo possível avaliar precocemente esta habilidade em crianças na Educação Infantil. Estes dados demonstram a importância de acompanhar o desenvolvimento desta habilidade no decorrer dos anos escolares, já que a literatura aponta que crianças em risco para transtorno de aprendizagem, como por exemplo, a dislexia, apresentam dificuldades na realização da atividade2323. Denckla M, Rudel R. Rapid "Automatized" Naming (R.A.N): Dyslexia differentiated from other learning disabilities. Neuropsychologia. 1976;14(4):471-9..

Pesquisas mostram a importância de investigar habilidades que compõem o processamento fonológico, dentre elas a nomeação seriada rápida, para a identificação precoce dos transtornos de aprendizagem. Autores1616. Andrade OVCA, Andrade PE, Capellini SA. Collective screening tools for early identification of dyslexia. Front. Psychol. [periódico na internet] 2015 [acesso em 12 de outubro de 2015]; 5(23):1-13. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4304252/
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realizaram um estudo longitudinal, na região Sudeste, que teve como objetivo avaliar a precisão de dois instrumentos de triagem coletiva - Ferramenta Alternativa para Educadores e Protocolo Cognitivo-Linguístico, na identificação de crianças em risco para os transtornos de aprendizagem, em especial a dislexia. Este último instrumento envolve o subteste de nomeação seriada rápida. Participaram 45 crianças de escola particular, com idades entre 6 a 8 anos. O estudo ocorreu em intervalos de tempo separados, no início do calendário acadêmico do segundo e terceiro ano, e no final do quinto ano. Também foram realizadas avaliações do desempenho acadêmico baseadas no currículo escolar. Os resultados revelaram que as habilidades fonológicas da Ferramenta Alternativa para Educadores se correlacionaram com as habilidades do Protocolo Cognitivo-linguístico. Além disso, foi possível identificar 13 participantes com baixo desempenho escolar, sendo 11 classificados como de risco para os transtornos de aprendizagem. Para os autores, os resultados oferecem suporte empírico para a realização de outras pesquisas sobre a identificação precoce de crianças em risco para os transtornos de aprendizagem.

A nomeação seriada rápida também é utilizada para comparar crianças com e sem queixas de transtornos de aprendizagem, como uma pesquisa realizada na região Sudeste2222. Bicalho LGR, Alves LM. A nomeação seriada rápida em escolares com e sem queixas de problemas de aprendizagem em escola pública e particular. Rev CEFAC [periódico na internet] 2010 [acesso em 05 de outubro de 2013]; 12(4):608-16. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-18462010000400010&script=sci_arttext.
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a qual buscou investigar a nomeação seriada rápida em crianças de uma escola pública e uma privada, com e sem queixas de problemas escolares. Participaram do estudo crianças com idades entre sete e onze anos, do 2º e o 5º ano do Ensino Fundamental. Os resultados evidenciaram que o desempenho de alunos de escola particular, comparado ao de alunos de escola pública, é superior, e que há uma diferença estatisticamente significante entre sujeitos com e sem queixas de transtorno de aprendizagem.

Outro estudo realizado na região Sudeste1515. Andrade OVCA, Prado PST, Capellini SA. Desenvolvimento de ferramentas pedagógicas para identificação de escolares de risco para a dislexia. Rev. Psicopedag. [periódico na internet] 2011 [acesso em 12 de setembro de 2012]; 28(85):14-28. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0103-84862011000100003&script=sci_arttext.
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investigou crianças de escola particular, no 2º ano do Ensino Fundamental I, com idade média de sete anos e quatro meses. Teve como objetivo elaborar e aplicar atividades pedagógicas coletivas, que avaliassem as habilidades fonológicas em pré-leitores e leitores iniciantes e que sirvam como potenciais instrumentos de rastreamento para ajudar na identificação de escolares de risco para desenvolver dificuldades na leitura-escrita. O protocolo comprovou sua eficácia, confirmando que a consciência fonológica, a memória de trabalho verbal e a nomeação seriada rápida consistem nos principais fatores de risco para a dislexia, independente de fatores socioculturais, e cujos prejuízos consistem a principal característica ou sintomatologia dos escolares de risco para a dislexia.

De modo geral, os estudos apontam o baixo desempenho nas habilidades de nomeação seriada rápida como característicos de grupos de indivíduos com dificuldades em leitura. No entanto, é importante chamar a atenção para outros aspectos, que podem justificar as dificuldades nas referidas habilidades, tais como: fatores demográficos; oportunidades socioeducacionais; contexto familiar; e outras variáveis de nível socioeconômico e cultural.

A importância de se considerar estas variáveis é retratada em outros estudos2424. Salles JF, Parente MAMP, Freitas LBL. Leitura/escrita de crianças: comparações entre grupos de diferentes escolas públicas. Paidéia [periódico na internet] 2010 [acesso em 25 de novembro de 2013]; 20(47):335-44. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2010000300006..
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),(2525. Fontes MJO, Cardoso-Martins C. Efeitos da leitura de histórias non desenvolvimento da linguagem de crianças de nível socioeconômico baixo. Psicol. Reflex. Crit. [periódico na internet] 2004 [acesso em 27 de novembro de 2013]; 17(1):83-94. Disponível em http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=18817111r.
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com crianças de classe socioeconômica baixa. Os achados remetem a reflexão do baixo desempenho nas habilidades de leitura e escrita ocasionada por fatores direta e indiretamente influenciadores, como os supracitados, assim como despertar nos pesquisadores, professores e pais o entendimento da complexidade de questões envolvidas no aprendizado da leitura e escrita e, com isso, ficarem atentos a possíveis obstáculos no desenvolvimento infantil.

Há, porém, uma grande escassez de pesquisas relacionadas à nomeação seriada rápida que trazem dados demográficos, variáveis socioeconômicas e culturais, que ofereçam a possibilidade de comparar dados socioeducacionais nas demais regiões. De modo geral, os estudos apenas caracterizam os indivíduos como de escolas públicas e/ou particulares, sem retratar a contexto em que estão inseridos.

A Tabela 3 mostra que 93,75% dos participantes estão na fase de escrita pré-silábica. Deste modo, sem a pretensão de estabelecer uma conexão causal, não é de se estranhar que como a maioria dos sujeitos está na primeira fase da escrita, pré-silábica, eles apresentassem dificuldades nas tarefas de nomeação seriada rápida e consciência fonológica.

Espera-se que crianças na faixa etária mais avançada estejam na fase de escrita também posterior e apresentem superação do realismo nominal, por exemplo. Crianças de cinco e seis anos deveriam apresentar produções escritas caracterizadas, respectivamente, na fase silábico-alfabética e alfabética. No entanto, estes dados não foram observados no presente estudo, como também não foram evidenciados em outras pesquisas2626. Santamaria VL, Leitão PB, Assencio-Ferreira VJ. A consciência fonológica no processo de alfabetização. Rev CEFAC. 2004;6(3):237-41. que buscaram avaliar a fase da escrita de crianças de cinco e seis anos, as quais verificaram que a maioria dos participantes se encontraram na fase de escrita pré-silábica.

Outro dado significante do estudo foi a relação encontrada entre a escrita e o realismo nominal. Esta relação é evidenciada quando comparado o número de sujeitos que não superaram o realismo nominal, com a fase de escrita em que se encontravam. Os resultados mostram que aquelas crianças que se baseavam fortemente no significado das palavras encontravam-se, em sua maioria, na fase pré-silábica. E a partir dos 3 anos já começam a superar o realismo nominal, corroborando com autores, os quais afirmam que o realismo nominal surge nas series iniciais2727. Nobre A, Roazzi A. Realismo nominal no processo de alfabetização de crianças e adultos. Psicol. Reflex. Crit. [periódico na internet] 2011 [acesso em 10 de novembro de 2013]; 24(2):326-34. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=18819131014
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.

A Tabela 4 apresenta a matriz de correlação, indicando que a consciência fonológica, no nível da sílaba - consciência silábica, se correlacionou negativamente com a nomeação de objetos e cores. Esta correlação negativa evidencia que quanto melhor o desempenho no nível silábico menor é o número de ocorrências de erros nas tarefas de nomeação seriada rápida. Além disso, a consciência silábica não se correlacionou com a nomeação de letras e números, achado que pode ser justificado em função da faixa etária das crianças pesquisadas.

A correlação entre consciência fonêmica e consciência fonológica total, mostrou-se significante (p<0,01), evidenciando que sujeitos que apresentaram baixo desempenho em atividades de tarefas fonêmicas, também apresentaram baixo desempenho no total do teste de consciência fonológica. A consciência fonêmica também se correlacionou com a nomeação seriada rápida de objetos e escrita, mostrando que as crianças que conseguiram realizar as tarefas de consciência fonêmica obtiveram menor número de erros na identificação de objetos. Este resultado indica a relação desta habilidade no início da aprendizagem da escrita, em que a criança consegue de fato realizar conversão grafema-fonema, percebendo os elementos da escrita.

No presente estudo, a correlação da consciência fonológica com a escrita evidencia a presença destas habilidades antes do período de alfabetização. A relação entre estas variáveis é bem documentada na literatura em crianças com maior faixa etária, na fase de alfabetização ou após este período2828. Capellini AS, Lanza SC. Desempenho de Escolares em consciência fonológica, nomeação rápida, leitura e escrita. Pró Fono R Atual Cient. 2010;22(3):293-344.),(2929. Nicolielo AP, Hage SRV. Relações entre processamento fonológico e linguagem escrita nos sujeitos com distúrbio específico de linguagem. Rev CEFAC [periódico na internet] 2011 [acesso em 02 de dezembro de 2013];13(4):636-44. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-18462011000400007&script=sci_abstract&tlng=pt .
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. Portanto, os resultados apontam para a importância do desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica em crianças pequenas para que possam desenvolver a leitura e escrita, suscitando maior sensibilidade para estas habilidades, que surgem na Educação Infantil ainda de forma menos refinada.

A consciência fonológica também se correlacionou com nomeação seriada rápida significantemente. Esse dado corrobora com estudo3030. Correa MF, Cardoso-Martins C. O papel da consciência fonológica e da nomeação seriada rápida na alfabetização de adultos. Psicol. Reflex. Crit. [periódico na internet] 2012 [acesso em 03 de julho de 2013]; 25(4):802-8. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722012000400020&lng=en&nrm=iso.
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que buscou investigar a contribuição da consciência fonológica e da nomeação seriada rápida para a habilidade de leitura e escrita em sujeitos adultos inscritos em um programa de alfabetização. Observou-se que as habilidades de consciência fonológica se correlacionam com a velocidade do acesso lexical e a leitura e escrita, sugerindo que a consciência fonológica é um correlato da habilidade de leitura e escrita tão ou mais importante do que a nomeação seriada rápida.

A existência de correlações significantes entre as habilidades avaliadas nesta fase inicial de aprendizagem da leitura e escrita revela a importância do estímulo ao desenvolvimento das mesmas antes do ciclo de alfabetização propriamente dito, favorecendo o processo de alfabetização e sinalizando, precocemente, eventuais problemas de aprendizagem, sempre considerando os contextos e oportunidades socioeducacionais, como já foi mencionado anteriormente.

Conclusão

Os resultados do presente estudo revelaram que embora seja difícil avaliar a consciência fonológica e a nomeação seriada rápida em crianças da educação infantil, é possível verificar uma evolução nestas habilidades em função do avanço da idade, o que indica que as mesmas estão em desenvolvimento nas séries iniciais.

A consciência silábica obteve melhores índices de pontuações, podendo-se observar grande dificuldade dos participantes nas tarefas de consciência fonêmica. É possível que a consciência silábica seja um instrumento de grande valor para promover o desenvolvimento da escrita nas séries iniciais, bem como para identificar precocemente problemas de aprendizagem.

Por outro lado, quando se compara o desempenho das crianças desse estudo nas habilidades de consciência fonológica, nomeação seriada rápida e escrita com os resultados de outras investigações, verifica-se que, de modo geral, elas obtiveram um desempenho aquém do esperado para sua idade e nível de escolaridade. Tal fato pode ser sugestivo da influência de fatores ambientais como, por exemplo, das oportunidades socioeducacionais para o desenvolvimento de tais habilidades. Portanto, deve-se considerar o contexto de vida da criança e as experiências educativas vivenciadas na família e na escola para a compreensão dos resultados.

No entanto, os resultados revelaram correlações significantes entre as habilidades de consciência fonológica com a nomeação seriada rápida e a escrita. Desse modo, essas habilidades devem fazer parte do conjunto de aspectos que devem ser observados com fins de acompanhar a aprendizagem inicial da escrita na educação infantil, inclusive para que eventuais problemas sejam identificados precocemente.

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  • Fonte de auxílio: CAPES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2016

Histórico

  • Recebido
    11 Jul 2015
  • Aceito
    09 Out 2015
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