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Class and class conflict in am industrial society

RESENHAS

Class and class conflict in am industrial society

Flávio P. Sampaio

Escola de administração de empresas de São Paulo

CLASS AND CLASS CONFLICT IN AM INDUSTRIAL SOCIETY - Por Raif Dahrendorf (Routledge & Kegan Paul Ltd., Londres 1959, Edição Inglêsa revista e ampliada sôbre a Edição Alemã - original - de 1957, 42S.)

Parafraseando G. MÓSCA, antigo Professor da Universidade de Roma, quando diz que "se pode explicar tôda a história da humanidade civilizada em têrmos do conflito entre o intentodos dominantes (grupos) para monopolizar e legar o poder político e o intento de novas forças para mudar as relações de poder", DAHRENDORF retoma tôda a análise da sociedade feita por MARX, menos para concordar com suas conclusões do que para desenvolver uma análise bastante sua, onde procura mostrar os equívocos do autor de "O Capital". Tôda a linha do livro representa um duplo esforço no sentido de: a) corrigir as interpretações que lhe parecem ter sido incorretamente feitas sôbre a obra de seu famoso e discutido compatriota e b) mostrar que o próprio desenvolvimento histórico da sociedade capitalista posterior a MARX atesta o desacêrto de muitas interpretações e previsões marxistas.

A Sociologia do século XIX buscou explicar a sociedade, através do modêlo capitalista, como algo que melhor se representaria por um fluxo, ou seja, uma seqüência de mudanças, tendo por móvel o conflito de classes e buscando explicar o comportamento humano necessàriamente pelas relações econômicas, isto é, "relações de produção", como diria o próprio MARX. A Sociologia do século XX se inclinou antes por descobrir e explicar como se estrutura a sociedade em têrmos de uma certa ordem estabelecida ou de sistemas mais ou menos fechados de relações.

Para DAHRENDORF, essas duas teorias mestras em oposição, ainda em nossos dias, se caracterizam, respectivamente, por excessiva ênfase nas perspectivas de dinâmica de mudança, por coerção, e de ordem estrutural-funcionalista, por integração.

O autor entende que "seria falso identificar necessariamente a classe superior de uma sociedade com o grupo dominante, nas "relações de conflito". De vez que a teoria de coerção acentua apenas um aspecto da estrutura social, a distinção entre grupo dominante e grupo dominado não é senão um elemento componente da sociedade.

DAHRENDORF discorda da conceituação de W. PARETO, em seu estudo sôbre a circulação das elites, acêrca da existência de dois grupos - "elites" e o "resto da população" - ou comodiria G. MÓSCA: "a classe política" e "a massa submetida". DAHRENDORF sustenta, com vigor, a premissa de que tanto as classes superiores como as massas constituem forças operantes na sociedade. Parece que o autor sentiu mais as sociedades inglêsa e alemã atuais.

Em vigoroso esforço por demonstrar a unilateralidade da visão marxista da estratificação social e concluir por uma teoria que englobe os aspectos da natureza coercitiva e conflitiva dos grupos sociais (que antes aceita do que rejeita), faz, na primeira parte do livro, minuciosa reconstituição da imagem da sociedade construída pelo materialismo histórico de MARX e, na segunda parte ensaia tôda uma reformulação do problema para, finalmente, questionar a validade do modelo de análise onde a categoria de classe social pudesse ser sociologicamente sustentada, em base de grupos antinómicosde conflito de interêsse, como causação necessária da mudança social rumo à sociedade sem classes.

O PROFESSOR DAHRENDORF se propõe a difícil tarefa de demonstrar a existência de uma Sociedade Industrial, muito mais inclusiva, na realidade contemporânea, da qual o Capitalismo seria apenas um aspecto, para daí tirar apoio lógico para a denúncia da parcialidade e limitação da teoria do conflito somente entre duas classes (a burguesia detentora do capital e o proletariado) como sendo, a um tempo origem das dores sociais e de todo processo de mudança.

Sua análise do conceito de classe é exaustiva e brilhante, culminando por pretender demonstrar que classe social é grupo social mais aberto, com possibilidade de conflito em si mesma e com variação em seus processos de recrutamento e desenvolvimento de interêsses específicos, donde a necessidadede análise da realidade empírica dos diferentes grupos sociais, para que se possa descobrir seu papel na Sociedade Industrial hodierna.

Tenta o autor demonstrar que, tanto o grupo social (classe), identificado na análise marxista como classe dominante (associada à detenção da propriedade), como o grupo social identificado como a classe dominada, se têm distanciado, no capitalismo do século XX, das características de homogeneidade crescente e conseqüente gradual tomada de consciência do conflito de interêsses entre os dois grupos antagônicos.

Procura mostrar o desenvolvimento de acentuada subdivisão da sociedade em estratos sociais e associações de interêssese posições, com o surgimento de um nôvo grupo de comunicação e arbitramento - a burocracia do "management" de um lado e a burocracia sindical do outro - o que resulta em um nôvo padrão de tratamento das relações sociais formais do trabalho.

DAHRENDORF parece querer ver na Sociedade Anônima ("corporation"), com a propriedade do capital diluída, com a presença de um corpo profissional de administradores, capaz de aliviar as tensões oriundas do conflito original de interêsses antagônicos, o desenvolvimento de um padrão não previsto por MARX nas relações Capital - Trabalho, a que não é estranho o Estado com seu sistema legal de contenção de excessos.

Em que pese essa variação acentuada ocorrida nos padrões de relações de produção de após - MARX (O que DAHRENDORF intenta rotular, algo incoerentemente, de Sociedade Industrial "Pós-Capitalista"), o autor do livro conclui sua tese com a declaração de que parece haver crescente evidência quanto à identificação da característica principal dos conflitos, sem dúvida existentes na Sociedade de nossos dias, como sendo, antes de mais nada, uma luta entre sociedades totalitárias e sociedades livres.

Nas primeiras, o alvo seria alcançar a homogeneização social com a remoção das barreiras do conflito intergrupal, com a produção de uma ordem político-social desestratifícada; e, nas segundas (pluralismo de sociedades livres), tomar-se-ia como pressuposto o reconhecimento da existência do conflito social com menor intensidade e corrigível na medida em que toda a sociedade reconheça a necessidade de mais justiça social em bases econômicas, por integração. "Pois, liberdade na sociedade significa, acima de tudo, reconhecer a justiça, o poder criador da diversidade, diferença e conflito".

"Class and Class Conflict" é um livro alto, vigoroso e de grande atualidade que, embora não possa conquistar a adesão de todos para a tese e conclusões sustentadas pelo autor, merece ser lido e meditado por quantos se preocupam com os magnos problemas sociais do mundo em que vivemos, a que o administrador não pode permanecer indiferente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1961
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