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The industrial revolution in Germany

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

The industrial revolution in Germany

Robert Norman V. Cajado Nicol

The Industrial Revolution in Germany

Por Knut Borchardt. Corresponde ao v. 4, fase. 4, s/d. (Fontana Economic History of Europe).

"Nã o há na atualidade nenhuma história econômica da Europa que, abrangendo-a como um todo ou cada um dos seus países em particular, seja plenamente satisfatória". Pelo menos é isto o que alegam os editores de uma pequena coleção de cerca de 60 fascículos que formarão, quando terminados, a Coleção Fontana de História Econômica da Europa. Cada um dos fascículos será uma espécie de capítulo dessa história econômica, cuja elaboração está a cargo de especialistas na área. A coleção, como um todo, conta com a orientação de um dos mais reputados nomes da atualidade no campo da história econômica, o Prof. Carlo Cipolla, da Universidade de Paris.

Não somente historiadores, mas especialistas em desenvolvimento e economistas em geral, terão suficiente razão para louvar esse grande empreendimento editorial da Fontana, posto que virá preencher uma lacuna no estudo de história econômica comparada, lacuna essa que é de se lastimar, especialmente com relação a alguns temas de grande relevância para os dias de hoje. Tal é o caso da Revolução Industrial. Para entendermos esse fenômeno que em menos de dois séculos transformou radicalmente a situação do homem na face da Terra, e que ainda em nossos dias é a grande meta dos países subdesenvolvidos, faz-se necessário isolar o específico do geral. Trocado em miúdos, para" compreendermos a natureza do processo de industrialização precisamos isolar o que este tem em comum em todos os países que o atravessaram e o que é específico a cada um deles. E isso, só por meio de um estudo comparativo de história econômica é que podemos atingir, é neste ponto que achamos louvável a tentativa do Prof. Cipolla de dar uma visão global da industrialização européia nos 11 fascículos que constituirão o volume 4 desta coleção. A obra que temos em mãos seria o quarto fascículo desse volume, é de autoria de Knut Borchardt, professor de economia da Universidade de Munique. Abrange um período um pouco mais longo que o do take aff industrial da Alemanha propriamente dito (fenômeno que, iniciando por volta de 1830, intensifica-se a partir de 1850), posto que cobre o período de 1700 a 1914.

A obra se encontra dividida em quatro capítulos: uma introdução e um capítulo dedicado a uma análise sumária da situação da Alemanha antes da Revolução Industrial, e dois outros mais longos que formam o cerne do livro: O período preliminar e O desenvolvimento da economia industrial. O período preliminar corresponde à fase anterior a 1850, e O desenvolvimento da economia industrial aos anos entre 1850 e a I Guerra Mundial.

Ao analisar os pontos de contato entre a industrialização alemã e a de outros países europeus, Borchardt chega à mesma conclusão a que anteriormente já haviam chegado Mantoux, Deane e Ashton, entre outros, de que a industrialização é um fenômeno complexo que engloba pelo menos três "revoluções": uma demográfica, uma agrícola e uma de transportes. A industrialização alemã diferiria, entretanto, da ocorrida na Inglaterra no sentido de ter sido induzida e não autônoma, no sentido de ter ocorrido bem mais tarde, de ter-se iniciado mais lentamente embora com surpreendente aceleração nq segunda metade do século passado e, finalmente, por ter ocorrido numa estrutura socioeconómica totalmente diversa.

O autor alinha uma série de fatores que poderiam ter atrasado a industrialização alemã, destacando-se entre eles, primeiramente, o regime das guildas. Este, à semelhança do que ocorreu na Inglaterra, representou sério obstáculo à industrialização, só tendo sido abandonado em certas regiões da Alemanha, por exemplo, na Saxônia, na segunda metade do século passado. A pesada tributação agrícola e manufature ira necessária para financiar os elevados dispêndios militares é também apontada como um sério obstáculo ao desenvolvimento industrial. Na mesma categoria poderíamos colocar a divisão política (e religiosa) da Alemanha que impunha uma série de restrições ao comércio inter-regional. Para termos uma idéia do que isso poderia representar, em 1789 existiam cerca de 314 territórios independentes na área que mais tarde se tornaria o Império Alemão. Finalmente, o peso da tra-| dição, a relutância em inovar e a ! pequena mobilidade social pare-j cem também ter dificultado bastante o aparecimento da indústria moderna.

Entre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento industrial teutônico, o autor aponta o aumento populacional de fins do século XVIII, fenômeno cujas causas permanecem obscuras, mas que teve efeitos bem pronunciados no tocante à industrialização, devido ao aumento na demanda j de manufaturas que gerou. Parece ter ocorrido no período, ainda, outro fenômeno que teria ace-| lerado o nível da demanda: um | ligeiro aumento na produtividade ) da mão-de-obra e da terra. A libertação do campesinato e o Bloqueio Continental de 1806/13 parecem também ter contribuído positivamente nesse sentido. O governo teve sua participação no processo por meio de alguma de suas políticas, notadamente a educacional. Finalmente, há a assinalar um fator que tanto pode ter contribuído positiva como negativamente para a industrialização alemã - o fato de a Alemanha não ter sido o primeiro país a se industrializar. A contribuição de tal fator só teria sido positiva se, ao permitir que a Alemanha evitasse incorrer nos "erros" da industrialização inglesa, tivesse mais que compensado o efeito negativo representado pela competição das manufaturas britânicas. O autor não deixa muito claro qual a sua posição sobre o assunto, limitando-se a mostrar ambas as faces da moeda.

O take off alemão teria ocorrido no final dos anos 30, isto é, após a criação da União Alfandegária. Esta, adicionada a um rápido desenvolvimento dos transportes, teria criado pela primeira vez na Alemanha um amplo mercado, comparável em extensão ao britânico. A contribuição dos transportes na criação desse mercado merece posição de destaque. Em nenhum outro país, a não ser talvez nos EUA, as ferrovias desempenharam papel de "motor" do desenvolvimento econômico da maneira como o fizeram na Alemanha. Entre 1850 e 1913, o volume de mercadorias transportadas aumentou em mais de 20 vezes. É interessante comparar-se o desenvolvimento ferroviário alemão com o brasileiro. Em ambos os casos, a participação do governo em sua implantação foi pronunciada, mas enquanto que na Alemanha as ferrovias desde o início foram coroadas de sucesso, no Brasil, só aquelas que serviam as regiões de cultura de café é que podem ser consideradas como tendo sido bem sucedidas - as outras, como as do Nordeste, só representaram pesados encargos para o erário público.

Como frisamos acima, até 1850 o desenvolvimento industrial alemão foi relativamente lento, tendo, entretanto, tomado grande impulso após essa data. Parte desse impulso decorreu do rápido desenvolvimento ferroviário que acabamos de citar, mas grande parte esteve diretamente ligada ao desenvolvimento da indústria pesada. Esta cresceu no período posterior a 1850 a uma taxa duas vezes superior à média das outras indústrias, liberando pois o processo de industrialização. Esse fenômeno recebe do autor grande atenção, especialmente, como não poderia deixar de ser, quanto ao método adotado para financiá-lo. Ê bem conhecida a participação que o sistema bancário teve no desenvolvimento industrial germânico. Enquanto que na Inglaterra o capital fixo era financiado pelos mercadores sem grande utilização de créditos bancários, na Alemanha foram os bancos os maiores financiadores da indústria.

O autor conclui sua obra com uma descrição sumária da participação do governo no processo de industrialização através de sua política econômica. Há ainda uma bibliografia conceituada no final do livro, de grande valia para os neófitos no assunto.

Seria fácil criticar a obra do Prof. Borchardt por ter dado pouca ênfase a certos aspectos de capital importância no desenvolvimento alemão, e aqui, o que temos em mente são especialmente os aspectos políticos de amplas repercussões econômicas. Mas, se assim procedêssemos estaríamos sendo injustos para com o autor, pois se tivesse considerado tais aspectos em detalhe, sua obra teria ultrapassado em muito a extensão proposta pelos coordenadores da coleção e o objetivo que tinham em mente - o de fornecer um bom guia introdutório aos interessados no desenvolvimento alemão, algo que a obra de Borchardt atinge plenamente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1972
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