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ROTHERY. Como organizar seu tempo e seus recursos

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt E. Weil

Como organizar seu tempo e seus recursos

Por Brian Rothery, tradução de Carlos Chaves do original inglês How to organise your time and resources, Business Books Ltd., London, 1972, 113 p., ilustrada, brochura, índice. Difel, São Paulo, 1975.

Baseado nos conceitos de Peter Drucker o autor da resenha procura transmitir há alguns anos conhecimentos sobre como organizar e melhor aproveitar o tempo para executivos. Foi solicitado por uma das grandes multinacionais e das mais importantes empresas brasileiras a fazê-lo. Nada se encontrava sobre o assunto fora dos escrito de Drucker e foi difícil organizar o material necessário para complementar o esqueleto da idéia - se organizar o tempo é bom, como praticamente se procede para realizar tal façanha? A resposta encontrada pelo resenhista baseia-se numa mistura de técnicas de organização e métodos, psicologia do trabalho e fisiologia da fadiga. Assim, quando viu o livrinho acima exposto por Cr$ 45,00 numa livraria, comprou-o na expectativa de conseguir novas idéias. E não foi desapontado: o livro cumpre o que promete. Só que o pressuposto é diferente - o autor parte do princípio que o homem ocupado moderno precisa ter tempo para fazer seus afazeres, diríamos laterais, para não dizer bicos. Mas os princípios enunciados são gerais e geniais, exemplo: ele observa os colegas de condução ao trabalho, e só 10 de 40 fazem algo de útil durante a meia hora de viagem. Mas 0,5 horas de ida, 0,5 horas de volta, vezes 250 dias, dividido por 8 temos 31 dias de trabalho útil por ano.

Na orelha do livro se encontra a biografia de Brian Rothery - atualmente ele é gerente de desenvolvimento de sistemas de computadores da Irish National Transport Company. Anteriormente foi engenheiro de sistemas na IBM e da Bell Telephone, no Canadá. O trabalho dele na empresa é sobre inventário no computador e modelos de controle de ambiente. Não é de admirar, portanto, que quatro dos seus nove livros sejam sobre técnicas de computação e análise de sistemas. Também escreveu dois romances. Foi durante alguns anos professor universitário, coleciona livros de pinturas, que ele mesmo restaura. Uma vida movimentada assim mostra que o autor está "na dele" ao escrever sobre organização do tempo. Mesmo assim o resenhista ficou infeliz: 30% do livro, os quatro primeiros capítulos, parecem estar fora do assunto - tempo gasto em encher inteligentemente páginas. Os capítulos são:

1. Antecedentes históricos

2. Sistemas de vida e de recursos

3. As necessidades elementares

4. Realidade complexa

5. Tempo fundamental

6. O dreno do cérebro

7. Organizando seu próprio tempo: administração do lar

8. Organização do tempo pessoal, viagens e generalidades

9. Organização do tempo pessoal: interação com terceiros

10. Os elementos-chave na inovação e no controle

11. Educação

12. Produtividade e vida a dois

13. Da produtividade em geral

14. Planejamento estratégico

Apêndice 1 Lista de possíveis atividades mentais

Apêndice 2 Negócios de tempo parcial

Apêndice 3 Instalação de um negócio

Apêndice 4 Sistemas de contabilidade simplificada

Apêndice 5 Sistema administrativo e de arquivos

índice

Ora, não se trata de dizer que os primeiros capítulos não estejam dentro do contexto do livro - mas economizar tempo significa ter um livro de leitura ainda mais rápida, um que vai imediatamente ao assunto. Assim, apesar da passagem da economia medieval para a moderna ser interessante em seus reflexos sobre o tempo, e o relacionamento do executivo com o meio e com a possibilidade de subir na vida, ela se resume em complexidade crescente. E a contribuição do autor no fato de que essa complexidade em grande parte é ignorada. Assim, diz o autor, o controle se torna fragmentário, E assim o tempo deve ser "racionalizado" para dar a possibilidade de se estender o controle e se concentrar no que for importante. Ergonometricamente, o autor reconhece o preguiçoso exausto e o bom sobrecarregado como extremos. O autor dá uma listagem de atividades inúteis tais como: ociosidade exaustiva; transporte vagaroso - engarrafamento do trânsito; viagens; interação com outros - família, colegas do trabalho, gerência, outros sistemas; sistemas domésticos desorganizados; fins de semana desagradáveis e infelizes; discussões inúteis.

Há confusão entre assuntos inúteis (? ) e acontecimentos caseiros, que senão inevitáveis, são prováveis e fora do controle do atingido (os problemas escolares do filho ou um pedido de empréstimo do cunhado). Atividade inútil não é o engarrafamento do trânsito, é ficar nervoso no engarrafamento, sem saber o que fazer, e debater mentalmente o que se está perdendo.

O capítulo sobre a administração do lar chega a um conselho que até parece ser tirado do manual do "chauvinista" do movimento feminino: "mandar a esposa trabalhar, para a família progredir na vida". O autor manda aproveitar as viagens e a hora de almoço para inclusive fazer aquilo que Drucker chama de "trabalho proveitoso por isolamento, sem interrupção". O capítulo sobre a interação com terceiros não menciona a lei de Graicunas sobre a multiplicação dos contatos humanos. Só fala de interação com o patrão. Planejamento do tempo é dado por meio de simples desenhos - é bem representativo, mas poderse-ia esperar mais. Considero o capítulo sobre educação como pouco produtivo, trata mais de ligação dos objetivos particulares com a instrução útil, não a formação de atitudes relativas ao tempo. No capítulo da produtividade da vida a dois o nosso chauvinista sugere às moças solteiras a procura de um homem produtivo e casar com ele, após tê-lo encorajado a progredir. Diz textualmente: "o mundo ainda é dos homens".

O capítulo sobre produtividade em geral baseia-se em motivação e discernimento para subir na vida, aproveitando os oportunidades. Passa posteriormente ao ponto do relacionamento do pai de família que cada vez faz vôos mais altos com mulher e filhos e da falta de possibilidade de ter carreira e família. Os perigos da vida com a "mordomia" empresarial são explicados. Finalmente o autor vai para um planejamento estratégico para por a funcionar a disposição de subir.

Tudo isso deixa o resenhista algo entristecido, pois o livro longe de explicar como o técnico e administrador devem agir para o seu bem e o da empresa, tornando-se mais eficiente dentro dela, é um manual para procurar saídas produtivas, que nos levarão ao mesmo tempo talvez a maior ganho mas também a uma dispersão muito maior em nome da maior produtividade e da capacidade de pagar mais imposto de renda. Não sei se a receita de Rothery é boa ou má, mas tenho certeza que só 50% do livro me agradaram do ponto de vista de conceituação da vida.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Out 1977
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