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Sistemas de cidades em economias adiantadas

RESENHAS

Ana Helena Martins de Andrade

Sistemas de cidades em economias adiantadas

Por Allan Pred. Rio de Janeiro, Zahar, 1979. 230p.

Allan Pred, professor de geografia da Universidade da Califórnia e membro do Instituto de Desenvolvimento Urbano e Regional, procurou, neste livro, combinar elementos-chave de seus trabalhos anteriores com materiais completamente novos, para apresentar uma visão heurística do crescimento e desenvolvimento dos sistemas urbanos em economias adiantadas.

O objetivo principal do livro é proporcionar respostas às seguintes questões:

1. Quais são os processos que estão por trás do crescimento e desenvolvimento, passado e presente, de grandes complexos metropolitanos "pós-industriais" e dos sistemas de cidades economicamente avançados aos quais pertencem?

2. Quais são as implicações dos processos em curso de crescimento e desenvolvimento dos sistemas de cidades sobre os esforços para reduzir ou eliminar, em grande parte, as desigualdades regionais de oportunidade de emprego?

3. Quais são as implicações dos processos em curso de crescimento e desenvolvimento de sistemas de cidades sobre os esforços para estimular melhorias de longo prazo na "qualidade de vida" de "regiões atrasadas" ou "deprimidas"? (p. 11).

O autor utiliza o primeiro capítulo para apresentação de conceitos básicos à discussão do crescimento de sistemas de cidades.

O segundo capítulo trata da aplicação desses conceitos à análise do crescimento passado nos EUA, com uma profusão imensa de dados, tabelas e gráficos de leitura bastante penosa.

A terceira parte procura estudar os processos atuais de mudança, colocando o papel das organizações multilocacionais na interdependência dos sistemas de cidades; esta parte, juntamente com a primeira, é que dão sentido e utilidade ao trabalho.

No último capítulo, o autor lança algumas opções futuras ao desenvolvimento planejado de sistemas de cidades que venham a minorar o problema da soberania regional, opções estas que são colocadas mais como caminhos para futuras pesquisas.

A linha de raciocínio do autor é tecida em torno do que ele coloca como "propriedade fundamental dos sistemas de cidades".

"Um sistema de cidades pode ser considerado como um exemplo particular de um 'sistema social complexo'. Como tal, é um sistema aberto, isto é, algumas unidades pertencentes ao sistema interagem diretamente com unidades fora do sistema (cidades de outros países ou regiões) e o sistema como um todo pode ser afetado por fatos ocorridos em outro lugar. Tal como um sistema social complexo, pode-se esperar de um sistema de cidades a ocorrência de um padrão de interdependência e ligações informais entre suas unidades que se torne cada vez mais intrincado com a passagem do tempo" (p. 13).

O crescimento e desenvolvimento dos sistemas de cidades estariam, então, na dependência de duas propriedades básicas dos mesmos: o grau de abertura ou fechamento com relação às unidades de fora, e a composição e extensão de suas interdependências internas.

Analisando rapidamente a literatura sobre o tema, Pred estabelece que as teorias do lugar central desenvolvidas por Lõsch e Christàller são as que melhor se aproximam das condições prevalecentes nos sistemas de cidades em economias adiantadas, mas que elas são ainda irrealistas na medida em que consideram a maior unidade do sistema de cidades como auto-suficiente, não se atendo a inter-relações entre grandes cidades.

Para o autor, "... as mais criticas interdependências geradoras de crescimento de um sistema de cidades em países economicamente adiantados são principalmente produzidas ou pelas relações insumo-produto ou pelas relações de controle de emprego e tomada de decisões dentro das empresas multilocacionais e órgãos do governo" (p. 19).

Isto porque o processo de crescimento e desenvolvimento desses sistemas está intimamente ligado com a acumulação de decisões que afetam, direta e indiretamente a localização e o tamanho das atividades fornecedoras de emprego nos setores público e privado, sendo que essas decisões estão na dependência do estoque de informações especializadas ou pertinentes da unidade tomadora de decisões.

Muitas das decisões que determinam direta ou indiretamente o tamanho e a localização das atividades fornecedoras de emprego, e portanto o crescimento do sistema tendem a criar ou expandir ligações por meio de bens, serviços, capital ou administração que contribuem para maior tendenciosidade espacial na disponibilidade e circulação de informações especializadas.

Assim, "... As grandes empresas e órgãos do governo multilocacionais são o objeto mais adequado para examinar quando se tenta entender a estrutura de transmissão interurbana de crescimento dos sistemas de cidades nas economias pós-industriais Isto porque as grandes empresas multilocacionais, tanto privadas como públicas, dominam essas economias na medida em que: direta ou indiretamente são responsáveis pela maior parte dos empregos; são as principais implementadoras de decisões locacionais implícitas e explícitas; e são, sem dúvida, os mais importantes geradores de fluxos de bens e serviços, capital e informações especializadas" (p. 97).

Conclui salientando que o processo de crescimento dos sistemas de cidades é permanentemente realimentado, mas com uma tendenciosidade espacial que faz com que se perpetue o crescimento do emprego e da população em complexos metropolitanos e suas áreas periféricas imediatas, e a dominação que essas áreas exercem sobre sistemas de cidades nacionais e regionais.

Para quebrar esse circulo vicioso, Pred propõe ações governamentais tendentes a influenciar a localização de empregos de escritório, tanto novos como já existentes em regiões-problema.

Fundamenta sua proposta principalmente na constatação de que durante muito tempo a estratégia usada pelos governos para combater o desemprego regional esteve centrada apenas no esforço de influir sobre a localização de unidades produtivas da indústria de transformação (com limitado sucesso), enquanto existem evidências a respeito da maior capacidade das atividades de escritório na geração de efeitos multiplicadores locais.

O trabalho analisado, apesar de extremamente árduo, muitas vezes repetitivo e de leitura maçante, levanta alguns aspectos muito atuais para os interessados em planejamento e economia regional.

Em primeiro lugar, o autor desenvolve todo um raciocínio, e posteriormente um modelo probabilístíco a respeito da realimentação do crescimento de grandes, complexos metropolitanos. Seu estudo pode trazer novas contribuições para as discussões a respeito da possibilidade de que o investimento em regiões dinâmicas e já desenvolvidas propicie um cresicimento acelerado e concentrado em primeiro momento, e que, num estágio posterior, os efeitos dessa acumulação se espalhem naturalmente às regiões atrasadas.

Segundo a análise de Pred isso não ocorreria, pois o processo de crescimento dos sistemas de cidades nas economias pós-industriais, dominadas pelas grandes empresas multilocacionais, tem um componente de realimentação que só aumenta a tendenciosidade espacial do estoque de informações responsável pelas decisões locacionais e pelo tamanho das atividades fornecedoras de emprego.

Desta forma, o trabalho de Pred pode reforçar a idéia defendida por vários estudiosos,1 1 A este respeito consultar Smolka, M.O. & Lodder, CA . Concentração, tamanho urbano e estrutura industrial. Pesquisa e Planejamento Econômico, 3(2): 447 jun. 1973; e Rattner, H. Planejamento urbano e regional. 2. ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1978. P-44-52. de que somente uma alocação de recursos em termos intra-regionais poderia propiciar um crescimento mais equilibrado do sistema de cidades como um todo.

Além disso, ele chama a atenção para o papel exercido pelas empresas multilocacionais privadas e públicas na geração de empregos, bens e serviços, capital e informações, ou seja, na transmissão interurbana de crescimento, o que vem sendo alvo de grandes polêmicas no Brasil.

Finalmente, o trabalho sugere ainda a oportunidade de se desenvolverem estudos sobre o papel do terciário na geração de efeitos multiplicadores locais.

Como conclusão, poderíamos dizer que o livro merece a curiosidade dos estudiosos ligados à área de desenvolvimento urbano e regional.

  • 1 A este respeito consultar Smolka, M.O. & Lodder, CA . Concentração, tamanho urbano e estrutura industrial. Pesquisa e Planejamento Econômico, 3(2): 447 jun. 1973; e Rattner, H. Planejamento urbano e regional. 2. ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1978. P-44-52.
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    A este respeito consultar Smolka, M.O. & Lodder, CA . Concentração, tamanho urbano e estrutura industrial.
    Pesquisa e Planejamento Econômico, 3(2): 447 jun. 1973; e Rattner, H.
    Planejamento urbano e regional. 2. ed. São Paulo, Ed. Nacional, 1978. P-44-52.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 1980
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