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Como prever falências

RESENHAS

Kurt Ernst Weil

Como prever falências

Por Stephen Charles Kanitz. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1978. 176p., il.

O autor deste livro é professor da Universidade de São Paulo e tem uma invejável bagagem econômico-administrativa, tanto em conhecimento teórico quanto prático. Assim, não é de surpreender a ninguém a pequena obra-prima que ele criou com este volume aparentemente despretensioso: Como prever falências. Um velho conhecido meu, vendedor com mais de 40 anos de experiência, cunhou a frase "há um cheiro de falência no ar", quando se referia a certas firmas, e o faro dele era real. Baseava-se em dados, como estoques de matéria-prima (baixos), atrasos nos pagamentos aos fornecedores, operários com atraso nos pagamentos, proibição de horas extras, aspecto formal e humano do escritório, etc. A quantificação desse faro de vendedor foi realizada por Kanitz.

A primeira surpresa agradável do livro é o fato de o autor ter reconhecido que nem todos os ramos de negócio são regidos pelos mesmos indicadores do "cheiro de carniça" da falência. Brilhantemente, mostra que nos bancos o lucro é um bom índice. O livro é dividido em cinco capítulos:

1. Como prever falências

2.È possível prever falências?

3. Como calcular os índices

4. Os resultados índice por índice

5. Conclusões.

Os métodos empregados pelo autor na avaliação do potencial de solvência ou insolvência baseiamse em estudo simultâneo e paralelo de índices. Num trabalho heróico, o autor digeriu mais de 500 índices da literatura especializada (que é muito resumida na pequena bibliografia) para escolher uns 50 aproximadamente. Não encontro na bibliografia as literaturas francesa e alemã de índices, ambas férteis e indubitavelmente originais, mesmo com eventual duplicação parcial da norte-americana. O autor submete esses índices à prova de aplicação a empresas falidas e não-falidas. O estudo é feito com perfeito sentido estatístico, dentro da mais clara metodologia científica, e as conclusões são razoáveis e claras.

O autor parte do princípio de que balanços são enfeitados e, às vezes, adulterados. A novidade é que ele demonstra estatisticamente o enfeite de balanço (windowdressing). Permito-me juntar aqui duas observações práticas. Nem sempre adulteração e enfeite resultam da vontade de mostrar uma boa situação. De fato - de acordo com o embaixador Roberto Campos, em dois artigos publicados no Estado de São Paulo -a Petrobrás usava o expediente de não reavaliar o aí vo para diminuir a depreciação e aumentar os lucros, pois funcionários e diretores tinham e têm participação nos lucros da empresa.

Um outro caso de windowdressing foi descoberto pelo resenhista no significativamente lucrativo balanço de uma das grandes empresas químicas na Bolsa de São Paulo. A empresa, trabalhando 24 por dia, num ramo altamente corrosivo, depreciava tão somente em 10% suas instalações. Quanto aos seus edifícios, não depreciava em quase nada a necessidade permanente de sua manutenção por motivo de umidade e fumaças corrosivas.

Finalmente, um fator inconsciente pode influi: na reduzida confiabilidade dos balanços. F o fato de muitos contadores, na década de 1960, terem apenas formação secundária, em cursos na maioria das vezes fracos e sem atrativos para bons alunos. Um exemplo de tal afirmação.é o estranho balanço lucrativo, apreciado pelo resenhista, em que a empresa não depreciava, havia alguns anos, pois o contador dizia que "não tinha tempo". Era falta de capacidade mesmo e não vontade de mostrar um lucro inexistente, pois o resenhista, ao analisar a declaração de imposto de renda do presidente da empresa (diversas fábricas em todo Brasil, no ramo de materiais de construção), encontrou completa falta de aproveitamento dos descontos legais e até do fundo 157. E esta declaração tinha sido prepara da pelo mesmo contador.

O autor dedica a maior parte do livro a um estudo índice por índice, sendo que alguns são importantes para o estudo de procedimentos para evitar e não só prever falências. O autor dá seus conselhos liberalmente e quem não quiser ouvir, lembrando o velho provérbio alemão "wer nicht hören will muss fühlen", sentirá as conseqüências.

A apresentação gráfica do livro é muito boa, impressão nítida e as tabelas de apuração estatística bem compostas. Os quadros são perfeitamente claros e de fácil leitura. A clareza de exposição dos índices torna o livro acessível ao uso de muitas empresas, sem maior treinamento dos técnicos de contabilidade. Combinando a análise horizontal dos índices com sua pesquisa dentro do último ano, terão o administrador de empresas, o gerente da seção de crédito e co branca, o capitalista e o banqueiro o instrumento para não só prever falências, mas também adotar sucessivas providências no sentido de evitar casos como, por exemplo, dos Fogões Wallig, cuja situação atual, de acordo com a revista Exame, de 27 de fevereiro de 1980, foi resultante de erros acumulados durante muitos anos, com evidente reflexo no balanço consolidado.

Finalmente, o autor conseguiu alertar tecnicamente os bancos, despertando-os para o problema, o que é um grande feito. Permito-mo acrescentar mais um índice: índice de nudez período médio de pagamento a fornecedores, período médio de recebimento de fregueses. Este índice, abaixo de 1, mostra falta de cobertura, portanto nudez, para não confundir com outros índices.

Mais uma vez, parabéns ao autor, por um livro que deve fazer parte de toda biblioteca de empresa e estar presente na mesa do diretor financeiro, na de crédito e cobrança e na do tesoureiro. Nas escolas superiores, é essencial em administração e análise financeira.

  • 1 Campos, Roberto. O Panorama visto de fora. O Estado de São Paulo, 20 de fevereiro de 1968 e 12 de março de 1968
  • 1
    O que não poderá acontecer, portanto, aos bons princípios contábeis, se houver interesse de contadores em aumentar o lucro da empresa e, conseqüentemente, também "o deles"?
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 1980
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