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The theory of communicative action

RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS

The theory of communicative action

Fernando C. Prestes Motta

Professor Titular do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/ FGV

THE THEORY OF COMMUNICATIVE ACTION

JÜRGEN HABERMAS

Londres, Heinemann, Volumes I e II, 1984,465 e 457 páginas. Traduzido por Thomas McCarty.

São três os objetivos fundamentais que Jürgen Habermas procura alcançar em Teoria da Ação Comunicativa. Em primeiro lugar, busca desenvolver um conceito de racionalidade emancipado dos pressupostos subjetivistas e individualistas que têm perseguido a filosofia e as teorias sociais modernas. Em segundo lugar, busca desenvolver um conceito de sociedade em dois níveis, integrando os paradigmas de sistema e mundo de vida. Finalmente, busca elaborar uma teoria crítica da modernidade, trazendo à luz suas deficiências e patologias, com vistas a sugerir novas direções para o modernismo em vez de propugnar seu rechaço.

Para tanto, procede a uma reconstrução histórica das idéias dos teóricos sociais clássicos, passando por Max Weber, Durkheim, Mead, Marx, Lukacs, Horkheimer, Adorno e Parsons, tomados como parceiros num debate virtual. Desse modo, o filósofo busca pensar com eles, de forma a ultrapassá-los, através do confronto de suas idéias. Nesse enorme esforço, Habermas assume que uma teoria adequada da sociedade precisa integrar métodos e problemáticas anteriormente divididos entre a filosofia e a ciência social empírica.

Lembra, inicialmente, que o paradigma cartesiano do pensador solitário dominou o pensamento moderno desde o inicio, como forma de pensar conhecimento e moralidade. Marcou o pensamento de Kant no final do século XVIII, não menos que seus predecessores empiricistas e racionalistas dos dois séculos anteriores. A subjetividade do paradigma cartesiano só será desafiada a partir do século XIX, com Hegel, ao demonstrar o caráter social e histórico das estruturas da consciência. Marx avança, ao afirmar que a mente não é a base da natureza e sim o inverso, descrevendo a consciência humana como contida, corporificada e prática. Para Marx, as formas de consciência constituem uma representação codificada das formas de reprodução social.

Também Darwin, ao estabelecer a continuidade das espécies humanas com relação ao resto da natureza, esboçou o caminho para o estabelecimento da relação entre inteligência e auto-preservação. Finalmente, Nietzsche e Freud mostraram o inconsciente no âmago da consciência, possibilitando a visualização do papel desempenhado pelo pré e não-conceitual no domínio do conceitual.

O resultado final, nas palavras de Jürgen Habermas, foi uma "dessublimação" do espírito e uma conseqüente desautorização da filosofia. Entretanto, as surpresas da história das idéias também ocorrem no século XX,e o paradigma cartesiano volta a influenciar consideralvelmente a filosofia, para, a seguir, receber novos influxos críticos, configurando um claro declínio do chamado paradigma da consciência. E a esse declínio que Habermas responde com uma mudança explícita para o paradigma da linguagem e com a conseqüente construção da teoria da ação comunicativa, partindo da constatação de que a reprodução das espécies humanas requer satisfação das condições d.e uma racionalidade inerente à ação comunicativa, visto que as atividades socialmente coordenadas dos homens se estabelecem e se mantêm através da comunicação.

No entanto, o atomismo caracteriza a maior parte do pensamento moderno. Nele, o sujeito coloca-se em oposição a uma infinidade de objetos, com ós quais mantém dois tipos básicos de relações: representação e ação. A racionalidade que se associa a esse modelo é a cognitivainstrumental, que é a racionalidade de um sujeito capaz de obter conhecimento sobre as contingências do ambiente e colocar este, em uso efetivo, na adaptação e manipulação desse ambiente. Habermas desloca a atenção para a dimensão comunicativa da ação, isto é, do que ocorre em termos de relações sociais, mediadas básica e fundamentalmente pela linguagem. E assim que a busca do entendimento se assenta na linguagem, e esta parece ser a razão pela qual Habermas desenvolve as idéias básicas de uma teoria da competência comunicativa.

Não é possível reduzir a ação comunicativa à fala ou ainda à conversa. A linguagem é um meio de entendimento, no qual os falantes integram os mundos objetivo, social e subjetivo em um sistema. E esse sistema que compartilham e do qual partem para a busca do entendimento e para se apresentarem uns aos outros com pretensões de validade que tanto podem ser reconhecidas quanto postas em questão. Assim, do ponto de vista pragmático, a linguagem só será relevante quando posta a serviço do entendimento.

Face à sua natureza harmonizadora e seu vínculo essencial com o entendimento social, a ação comunicativa é o único caminho para o racionalismo e a única forma de ultrapassar as tendências conservadoras do pensamento, que anunciam um pretenso esgotamento do projeto modernista e a descolonizar o mundo da vida, submetido de todas as formas às normas jurídicas e econômico-administrativas do sistema, como Habermas tão bem descreve.

Teoria da Ação Comunicativa é a grande obra sistemática de Jürgen Habermas. As idéias ambiciosas nele contidas estão sendo atualmente discutidas por especialistas de diversos campos do conhecimento. Sua importância para a análise organizacional é inquestionável. Ainda são poucas as aplicações em textos e teses, mas parecem aumentar dia a dia as tentativas nesse sentido. Trata-se de um pensamento vigoroso, que precisa ser conhecido e discutido em nossos meios de ensino e pesquisa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1991
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